Sindicalistas apontam a precarização no mercado de trabalho da construção civil no país, com base em informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os dados mostram que construtoras contrataram quase oito vezes mais serventes do que pedreiros, embora o primeiro grupo represente só 40% dos trabalhadores em obras, de acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
“Um servente prepara massa para até três pedreiros”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e Mobiliário de Belém Antágoras Lopes. “O número de contratações é a prova de uma fraude. Há gente sendo contratada como servente, mas trabalhando como pedreiro.”
Lopes foi um dos sindicalistas que esteve nesta terça-feira (11/5) na apresentação de um estudo setorial da construção civil elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Do documento, constam os dados do Caged, que computa as contratações e demissões informadas por empresas ao governo mês a mês.
Segundo o Caged, de janeiro de 2009 a fevereiro deste ano, 153 mil serventes de pedreiros foram contratados. No mesmo período, as construtoras contrataram 20 mil pedreiros.
De acordo com a CBIC, porém, existe um servente para cada 1,5 profissional trabalhando em obras no país.
“Pedreiro ganha cerca de 25% a mais do que servente”, complementou Lopes. “Provavelmente, metade dos pedreiros trabalhando não recebe para isso pois está registrada como servente.”
O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre de Oliveira, afirmou que a precarização do trabalho é atualmente um dos maiores problemas da construção civil, assim como a informalidade. “Mais da metade dos trabalhadores da construção é informal”, disse ele.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, dos 6,9 milhões de trabalhadores na construção, 4,4 milhões não têm carteira assinada. Destes, 2,7 milhões trabalham por conta própria e o restante é assalariado sem carteira.
Para o secretário-geral da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom), Dário Carneiro, esses dados mostram que é preciso repensar a qualidade do emprego gerado nas construções. “Nós vemos o número de empregos aumentar, mas não podemos aceitar as condições de trabalho desses empregos.”
Em nota, a CBIC informou que os dados sobre contratação no setor não indicam precarização, mas sim a lacuna de especialização dos profissionais.
Segundo a entidade, as empresas contratam mais serventes devido à falta de qualificação dos candidatos. Depois, elas capacitam esses profissionais, que deixam de ser só ajudantes. “Prova disso é o aumento expressivo do ganho médio do trabalhador da construção civil, o que evidencia que não existe precarização, mas melhoria das competências”, informou a entidade.
De acordo com o Dieese, o salário médio do trabalhador na construção subiu de R$ 525,43 para R$ 580,33 de 2008 para 2009.